É clichê, né? Ô, se é! Mas o clichê existe por uma razão. Em geral uma razão besta, mas uma razão. Eis aqui uma: Tenho 44 anos de idade, estudei muita literatura na vida, já tenho alguns livros publicados, domino ferramentas, métodos e tecnologias de escrita, mas não estou em contato com o meu verdadeiro eu.
Falei que era clichê, não falei?
Bom, é verdade. Eu escrevo bastante, mas em geral escrever é um prazer associado a outras coisas: ao projeto no qual estou envolvido, a outras pessoas, a outras mídias. Aí eu trabalho mais ou menos “sob demanda” e dentro dessa demanda eu consigo desenvolver coisas interessantes para aquele estilo.
Mas isso não me leva nem um pouco mais perto do que eu esperava do meu projeto autoral. O que sou eu? Gótico? Romântico? Pop? Visceral? Eu tenho um pouco de cada uma dessas coisas dentro de mim, menos o romântico, essa porcaria modorrenta melosa. Se eu for olhar para influências fora da literatura, então, mais diverso ainda: rock, blues, soul, quadrinhos, comédias, terror, suspense, churrasco, etc.
Quando se tem um campo aberto a sua frente e sua bagagem está cheia, como escolher uma estrada. Ou uma única estrada. E pior ainda: como misturar cada uma dessas coisas.
Ok, ok, misturar tudo e fazer um x-tudo de toda a sua vida provavelmente seja a pior ideia desde a invenção do paraquedas.
Por isso antes de disparar a escrever como se não houvesse amanhã, estou planejando cuidadosamente o que eu quero ser quando eu crescer. Como eu já tenho 41, é muito possível que eu passe os próximos anos crescendo em direção ao chão e abaixo dele, por isso o trajeto é tão importante. É um longo caminho percorrer 1,70 metros em 40, 50 anos (se eu durar até lá).
Há outro motivo pelo qual eu não quero pular como Franz Reichelt (não, ele não era escritor, ele é o protagonista do gif aí em cima): o mercado editorial. Existe um mercado, eu quero entrar pela porta da frente (de preferência no chute, falando alto e cutucando o nariz). Não há cristo que me diga que me convença de que eu não deva planejar a minha carreira ao redor do mercado existente (apesar de o povo não parar de falar para ignorar). Não é assim que as coisas funcionam. Há um mercado e esse mercado influencia o destino da escrita. Ponto final.
Então, resumo da ópera: quem sou eu que o mercado aceite muito bem? Vai ser foda descobrir, viu…
Beijo, até amanhã.
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